domingo, 7 de fevereiro de 2016

Para melhor, está bem. Para pior, já basta assim.



O mês de Janeiro terminou com a primeira ronda de reuniões entre o Governo Regional dos Açores e os partidos políticos, sobre o processo de revisão do Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores.
Esta ideia já tinha sido lançada, no ano passado, pelo Presidente do Governo Regional no seu discurso aquando das celebrações do Dia da Região, onde apresentou 3 pontos essenciais para discussão e revisão:
1.       Composição da Assembleia abrindo a possibilidade de haver candidaturas subscritas por listas de cidadãos independentes à Assembleia Legislativa da Região, bem como um sistema de listas abertas;
2.       Organização administrativa apresentando uma alteração às competências dos Conselhos de Ilha, que passariam a ter poderes executivos;
3.       Modelo constitucional da nossa Autonomia onde é defendida, claramente, a extinção da figura do Representante da República, sendo considerada a possibilidade se vir a criar um outro órgão regional em sua substituição.
Destes três pontos, e tendo em conta o que tem saído nos jornais, os partidos que foram ouvidos até ao momento e que são os mesmos que têm assento parlamentar, apenas comentam a extinção da figura do Representante da República e a transformação dos Conselhos de Ilha em “Governos de Ilha”, sendo que sobre este último referem unicamente que são contra. Até ao momento, apenas o PPM se manifestou a favor da possibilidade de haver listas eleitorais subscritas por cidadãos independentes e do sistema de listas abertas.

Relativamente ao primeiro ponto, devo saudar entusiasticamente a intenção de abrir as candidaturas a listas de cidadão independentes. Apesar de esta possibilidade estar sujeita, não só à revisão do nosso Estatuto Politico - Administrativo, mas também à revisão da Lei eleitoral, que não depende de nós, mas sim do Governo Central, celebro o facto de começar a haver partidos que finalmente percebem que a democracia só funciona quando os cidadãos participam activamente na vida politica.
No que diz respeito às listas abertas, e uma vez que a ideia é que seja o eleitor, no dia das eleições, a ordenar os candidatos das listas de acordo com a sua preferência, corremos o risco de aumentar ainda mais as taxas de abstenção e o número de votos nulos. Imaginem-se numa cabine de voto a ter que ordenar todos os candidatos de todos os partidos… Pois é, à terceira escolha já desisti.
Para melhorar a democracia, aumentar a participação cívica e diminuir as taxas de abstenção, porque não começar por implementar o voto electrónico? Ou abrir ao debate público os assuntos que são fundamentais para o desenvolvimento, progresso económico e protecção dos recursos da Região, com orçamentos participativos, por exemplo.

Quanto à questão da organização administrativa, que se centra exclusivamente na transformação dos Conselhos de Ilha em órgãos executivos, a posição de todos os partidos ouvidos é contrária à do partido do Governo.
Vejamos, o Conselho de Ilha é um órgão consultivo composto pelos Presidentes das Assembleias e das Câmaras Municipais, quatro membros eleitos por cada Assembleia Municipal, três Presidentes de Junta de Freguesia, um representante do Governo Regional e representantes do sector empresarial, de movimentos sindicais, associações agrícolas e do sector das pescas, IPSS e da Universidade. Todas as sensibilidades da sociedade civil estão representadas no Conselho de Ilha.
Considerando as propostas apresentadas pelo Presidente do Governo Regional, estes Conselhos de Ilha passariam a ser eleitos e a ter competências executivas transferidas dos municípios das respectivas ilhas e competências delegadas pelo Governo Regional.
Se se pretende que não haja um aumento de órgãos políticos nem de burocracia institucional, será que a intenção desta proposta é extinguir as Câmaras Municipais e as Juntas de Freguesia?
Se a intenção é essa, julgo que este debate acaba antes de começar, pois para isso teria que haver uma alteração completa do actual panorama da administração local, com mais outra reforma, desta feita bem mais profunda e arriscada, e não me parece que seja praticável.

Finalmente, o modelo constitucional da Autonomia, todos são da opinião de que o cargo do Representante da República deve ser extinto, entre outras razões, porque não é eleito, mas sim nomeado pelo Presidente da República. No entanto defendem a necessidade de se esclarecer a quem devem ser atribuídos os seus poderes. Por exemplo, o PSD defende a criação de um Presidente dos Açores e o CDS-PP pergunta se esses poderes passarão para o Presidente da Assembleia Legislativa Regional.
Gostaria de chamar a atenção para os poderes do Representante da República. Muito resumidamente ele:
Nomeia o Presidente do Governo Regional; Nomeia e exonera os membros do Governo Regional; Assina e envia para publicação os Decretos Legislativos Regionais (DLR); Exerce o direito de veto e pode pedir a fiscalização preventiva da constitucionalidade de qualquer norma de DLR.
Sendo estes os poderes do Representante da República e se temos um Presidente da República, eleito por sufrágio universal, que tem os mesmos poderes a nível nacional, parece-me redundante esta duplicação de funções e de figuras do Estado.


O debate sobre a revisão do Estatuto Político-Administrativo da RAA ainda vai no adro, mas já fez correr alguma tinta. É importante que se alargue a toda a sociedade civil e que quem quiser participar, tenha verdadeiramente essa possibilidade. As sessões de esclarecimento e de debate, que se devem realizar em todas as Ilhas do Arquipélago, devem ser amplamente divulgadas, de modo a que haja uma participação activa e construtiva, porque estamos a falar, essencialmente em dois dos pontos, em questões que podem alterar, esperemos que positivamente, o funcionamento da politica e a intervenção cívica de cada um de nós.

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