Mais um ato
eleitoral, e novamente o vencedor de sempre: a abstenção. No país
da revolução dos cravos, a democracia ainda apresenta sintomas de
pouca saúde. No passado domingo, assistimos a uma abstenção
superior a 50%, tendo a abstenção nos Açores atingido o valor
inédito de 70%. Um tal desinteresse faz com que a legitimidade do
ato eleitoral fique em causa. É um facto matemático que o novo
Presidente da República não foi eleito por maioria absoluta dos
portugueses recenseados. Teve a maioria de votos no universo dos
votantes, ou seja, feitas as contas à abstenção, os votos que o
candidato eleito arrecadou (2,4 milhões) representam apenas um
quarto da população inscrita. É caso para dizer que quem não
vota, vota na verdade por omissão. Ou seja, não votar é dar força
ao partido/candidato mais votado.
Normalmente, são
várias as causas apontadas para justificar a abstenção: mortos que
ainda constam nos cadernos eleitorais, mas que por razões óbvias
não conseguem ir votar; emigrados que não conseguem vencer a enorme
barreira burocrática do recenseamento no estrangeiro; um sistema de
voto completamente ultrapassado, numa era já apelidada de “4ª
revolução industrial – a era digital”, em que um cidadão
ausente da sua área de residência, mas em território nacional, se
vê impedido de votar; eleitores apanhados pela propaganda que
promove a abstenção; e cidadãos genuinamente sem interesse. Mais
razões haverá, mas as que mais peso poderão ter são todas elas
solucionáveis.
A poucos meses de
outro ato eleitoral, desta vez as Legislativas Regionais da RA dos
Açores, será que algo irá ser feito? Na era da informatização,
será que custa assim tanto cruzar a base de dados das certidões de
óbito com os recenseamentos eleitorais? Será que mais uma vez
iremos assistir à propaganda do “isto está vencido, de nada serve
votar”? Num estado dito democrático, na verdade o povo tem pouco
ou nenhum poder além do voto. Será que nos podemos dar ao luxo de o
desperdiçar?
Fica desde já o
nosso compromisso em trabalhar para uma democracia sempre mais
participativa e acessível a todos, onde o poder seja realmente dos
cidadãos e não das máquinas partidárias e respetivos gabinetes de
propaganda. No Parlamento manda o povo, os assentos parlamentares não
estão sujeitos a privatizações. Por que razão não pode um cidadão livre e independente candidatar-se a deputado? Será que os partidos merecem a exclusividade do acesso à Assembleia Regional?
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