De acordo com o relatório do IPCC (Intergovernamental Panel on
Climate Change) mais recente (2013), é muito provável que a temperatura
global da atmosfera continue a aumentar durante todo o século XXI em
consequência da emissão continuada de gases com efeito de estufa, a
maioria de origem fóssil. Este aumento de temperatura não é homogéneo,
prevendo-se consequências diferentes em regiões diferentes do globo. No
caso particular dos Açores e num cenário de emissões otimista (RCP2.6),
as previsões de vários modelos apontam para que um aumento anual da
temperatura do ar à superfície entre 1 e 1.5ºC até o final do século
relativamente ao período pré-industrial (1861-1890), com exceção da
primavera onde se prevê um aumento entre 0.5 e 1ºC. Neste cenário, a
precipitação de larga escala será inferior a 10% do valor anual de
referência, exceto no inverno onde será 10% maior. A humidade relativa à
superfície deverá observar um aumento de 1%. No entanto, estas
previsões não consideram os efeitos locais da topografia das ilhas, que
poderão amplificar ou atenuar as alterações de larga escala,
nomeadamente nas nuvens e precipitação de origem orográfica.
De acordo com o IPCC, os eventos de precipitação extrema tem
aumentado globalmente. Este aumento é explicado pelo acréscimo no
conteúdo em vapor de água na atmosfera que resulta do aumento da
temperatura. Os dados históricos mostram que para os Açores este aumento
não é evidente, mas de acordo com as projeções do IPCC (CMIP5)
espera-se um aumento da intensidade e da frequência destes eventos
durante o este século.
Relativamente aos ciclones tropicais, os registos históricos não
apresentam uma alteração significativa durante o século XX. Contudo, as
projeções do CMIP5 sugerem que o índice de potência dissipada dos
ciclones tropicais no Atlântico Norte (PDI) deverá aumentar durante o
século XXI.
As políticas climáticas nas áreas da gestão da água, solos, recursos
marinhos, florestais e agrícolas em que aproveitar e respeitar as
condições naturais das ilhas apresentam na sua maioria um caráter
consensual. Outras áreas haverá, no entanto, que implicarão maior debate
político, como resíduos, transporte e turismo.
Embora a problemática das alterações climáticas seja de âmbito
global, cabendo a cada região contribuir igualmente para a redução das
emissões de gases com efeito de estufa, nem todas as regiões sofrerão da
mesma maneira estas alterações. Por exemplo, haverá regiões onde as
alterações climáticas levarão a uma profunda desertificação e outras
onde poderão estar sujeitas a cada vez mais e maiores inundações. Haverá
outras onde o aumento de temperatura terá vantagens do ponto de vista
agrícola e outras onde será francamente negativo, causando graves
prejuízos. Os Açores são uma daquelas regiões onde o balanço destes
impactos é francamente negativo. Neste contexto, as medidas adaptativas
deverão ter preferência sobre as de mitigação porque do ponto de vista
financeiro o impacto das alterações climáticas nas ilhas será maior que o
esforço necessário para a redução das emissões dos gases com efeito de
estufa.
A atual Estratégia Regional para as Alterações Climáticas (ERAC)
publicada em 2011 necessita de ser revista à luz dos resultados do
último relatório do IPCC (AR5) e das medidas acordadas no COP21. Por
outro lado, o Plano Regional para as Alterações Climáticas (PRAC), o
qual constituirá o principal instrumento para a implementação dessa
estratégia, encontra-se atualmente em preparação, possivelmente com base
nos resultados disponíveis na ERAC de 2011, ou seja, com base em
informação de base com mais de 10 anos. Na verdade, as projeções que
serviram de referência na elaboração do ERAC foram publicadas há mais de
uma década (Climate Change Scenarios in the Azores and Madeira Islands,
2004), havendo por isso um desfasamento significativo entre o estado da
arte e a informação climática de base.
No plano das medidas de adaptação, estas deverão ser analisadas de
acordo com os impactos previstos nos vários sistemas sujeitos a riscos
climáticos, nomeadamente sistemas físicos (ex: ribeiras, lagoas, cheias,
secas, erosão costeira, etc), biológicos (ecossistemas terrestres,
marinhos, incêndios florestais, etc) e humanos (produção de alimentos,
populações, saúde, economia, etc.).
Existem alguns exemplos recentes de sistemas que foram
significativamente afetados devido a situações cuja extensão e
intensidade só se justificam num clima alterado. No caso dos Açores, é
necessário avaliar situações recentes que possam ser atribuídas a
alterações climáticas e identificar medidas de adaptação específicas com
base nas projeções mais atualizadas e nos cenários mais prováveis.
Hoje, a sociedade açoriana é desafiada a uma muito maior participação
na discussão, definição e implementação de políticas que deverão
determinar a sua boa qualidade de vida futura!
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